julho 30, 2020

Pandemia: relações afetadas, dependência tecnológica e estafa emocional

Os índices de estresse, burnout, ansiedade, dependência tecnológica e depressão estão em alta no pós covid. 

Mas, antes mesmo da covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS)  já havia previsto que a depressão seria uma das doenças mais incapacitantes do mundo até 2020.

Você imaginava que estar longe das pessoas seria um dia considerado um ato de preocupação, amor e cuidado? 

A nova realidade para o mundo todo pelas exigências da pandemia, foi realmente impactante. Uso obrigatório de máscaras, álcool para higienizar, cuidados redobrados com a higiene, como lavar as mãos com frequência e o mais temido por todos: o isolamento social.

Os cumprimentos e abraços já não podiam existir da maneira com que estávamos acostumados. Estar junto de quem amamos, também foi extremamente reduzido e, na maioria das vezes, cancelado por completo por quase um ano. Não podemos esquecer que desde nosso nascimento, uma das coisas mais importantes que temos assim que saímos do útero, é aquele colo/seio quentinho da nossa mãe, e não poder se ter isso, por quaisquer que forem as motivações, são impactantes do ponto de vista do amadurecimento individual. 

No entanto, os impactos do isolamento são inúmeros e o isolamento da covid-19 potencializou diversos problemas comuns da modernidade. 

Diante de todo o desequilíbrio gerado pela pandemia, apresentando fatores de risco como a contaminação, instabilidade, sobrecarga, isolamento social, desemprego e medo, associado diretamente a constantes notícias sobre o vírus e situações catastróficas por todo o mundo, afetaram a saúde mental de todos.

Relações sociais afetadas e dificultadas

A reclusão e somente com a nossa própria companhia a longo prazo, pode ter consequências como a dificuldade nas relações sociais.

Sabemos que, mesmo com a facilidade tecnológica para a interação, dependendo do tempo em que ficamos isolados e passando mais tempo sozinhos, podemos nos acostumar. Isso a longo prazo, traz consequências negativas, como a dificuldade de relacionamento interpessoal.

No caso da pandemia da covid-19, algumas pessoas fizeram a volta gradativa da interação social, já outras sentiram uma vontade maior de estar com outras pessoas e algumas acabaram preferindo manter somente a própria companhia na maior parte do tempo, resultando até em uma fobia social. 

Uma das relações que foram mais afetadas pelo isolamento social, foram as amorosas, onde diversos casais se separaram devido ao desgaste das relações por conta da pressão psicológica e convivência.

Segundo uma pesquisa do Colégio Notarial do Brasil (CNB), os divórcios aumentaram 15% no segundo semestre de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019.

Porém, teve gente que seguiu na contramão e criou novos laços através da internet, que resultaram em novos relacionamentos amorosos e amizades de sucesso.

No geral, pudemos perceber que o contato com o outro ficou mais superficial e de falsa intimidade, afetando a sociedade como um todo, provocando também a falta de diálogo e a ilusão de que tudo é possível, além de dificuldades de aprendizagem decorrentes da dependência da internet, de transtornos de ansiedade e de déficit de atenção.

Um ponto importante que devemos ressaltar, é que a superficialidade das relações se dá inclusive, por acharmos que não devemos discordar do outro. Não aprendemos a conflitar sem confrontar e, muito menos a reparar quando estamos errados, não podemos nem assumir que estamos errados sem vir uma enxurrada de julgamentos morais. Logo, as relações se dão através do que é certo e errado, e logo é ditada pelos ideais do mundo tecnológico, que principalmente depois da pandemia, tem ganhado mais espaço. 

A revolução na comunicação e a dependência tecnológica

A nossa maneira de viver, de se relacionar, de comprar e de consumir informações, nunca mais foi a mesma depois da oferta crescente de acesso à internet e a popularização das mídias sociais.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo, com 18,6 milhões de brasileiros, ou seja, 9,3% do país. 

Com a chegada da pandemia, as pessoas foram obrigadas a ficarem muito mais tempo conectadas para manter a socialização e interação sem contato físico, além de trabalhar remotamente para a maioria das profissões. Tudo isso resultou no indício de um vício comportamental relacionado e compulsivo de mídias sociais. Podemos até nos questionar, “que vazio é esse que precisamos e estamos tentando preecher”?

Essa utilização constante fez com que as pessoas permanecessem muito mais tempo conectadas do que o necessário, tornando-as com dependência tecnológica. O transtorno da sociedade digital contemporânea, a nomofobia, ficou ainda mais em evidência durante a pandemia, onde boa parte das pessoas têm mantido relacionamentos e modos de comunicação exclusivamente por meio de smartphones e tablets.

Através deste cenário, também ocorreram diversas mudanças para os pais, que tiveram funções acumuladas com as de professores, além de trabalharem remotamente, gerando uma sobrecarga. 

Uma ressalva, é que uma das coisas que mais aparece na clínica referente ao trabalho remoto, é que não existe mais divisão entre o que é trabalho, lazer e descanso, o avanço da tecnologia, e a mudança abrupta a qual tivemos que nos adaptar com a pandemia, resultou em uma mistura e atravessamento. Desta maneira, os níveis de ansiedade, estresse e estafa cresceram exponencialmente.

Burnout, estresse, ansiedade e estafa emocional

Em 2020, pesquisas revelaram que 53 milhões de novos casos de depressão foram registrados no mundo. Esse estudo publicado no periódico The Lancet, demonstrou que as mulheres e os jovens foram os grupos mais afetados e que o Brasil está na lista de lugares mais atingidos por esse fenômeno.

Sabemos que, quanto mais tempo passamos no mesmo ambiente, acaba se tornando cada vez mais difícil de separarmos as tarefas. Por exemplo, na pandemia a nossa casa se tornou um ambiente de trabalho, descanso, lazer, estudos e muito mais. 

Esses fatores, somado à pressão psicológica, aumento de notícias negativas, somatização de tarefas e responsabilidades, crises econômicas, provocaram um grande aumento de estresse, ansiedade, estafa emocional e até burnout em muitas pessoas.

De acordo com estudo publicado pela OMS, “a pandemia teve um grave impacto na saúde mental e no bem-estar das pessoas em todo o mundo, ao mesmo tempo em que levantou preocupações sobre o aumento do comportamento suicida.”

Ao longo da pandemia, tivemos uma piora da saúde mental das pessoas no mundo todo.

De acordo com o Instituto Ipsos, a terceira maior empresa de pesquisa do mundo, 53% das pessoas entrevistadas aqui no país, afirmaram que tiveram algum comprometimento psicológico desde o surgimento da COVID-19. Um estudo feito pela Associação Brasileira de Psicologia da Saúde revelou que, mais de 80% dos psicólogos tiveram aumento de demanda de pacientes durante a pandemia.

Segundo matéria publicada pela Fundação Tiradentes, “doenças como ansiedade e depressão têm sido mais relatadas pelos brasileiros, assim como a procura por atendimento psicológico, tanto da rede pública, como na privada. O Brasil se tornou o quinto país no ranking mundial onde as pessoas mais sentiram os efeitos da pandemia, como a perda de amigos e familiares, medo da morte ou até mesmo o isolamento social.”

Conclusão

Cuidar da saúde física e mental é fundamental em todos os períodos e situações da nossa vida.

Uma das principais necessidades, segundo a Teoria das Necessidades Humanas de Maslow, é a socialização. É através da socialização que o indivíduo sente-se motivado, satisfeito e ao mesmo tempo feliz por estar com amigos, família e convivendo entre outras pessoas. 

E é através desta que também vamos nos autoconhecendo, pois não somos rígidos e imutáveis, eu não sou a mesma no trabalho e em casa com meus familiares, mas é através destas convivências que me permito estar em lugares e sentir em minha pele a dor do outro, bem como possibilidades de transformações. Por exemplo, minha família pode me achar muito raivosa/chata, no entanto, meus pacientes me acham dócil, confiável e sensível. Eu sou só uma coisa ou outra? Não necessariamente! 

A possibilidade de estar em vários lugares de diversas formas, é o que vai me possibilitar ter inúmeros repertórios para lidar com as adversidades da vida de maneira criativa, e assim superar os obstáculos. 

E quando essa necessidade não é satisfeita, a tendência é a desmotivação, desânimo, estresse, ansiedade, dentre outros que tendem a ocorrer.

A nossa mente funciona em sincronia com o nosso corpo. Por isso, quando as nossas emoções estão prejudicadas, a nossa imunidade pode ser facilmente alterada.

Busque sempre pelo bem-estar geral através de hábitos saudáveis do dia a dia.

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